quarta-feira, 1 de junho de 2011

Manhã Tranquila

A foto acima é do centro histórico da cidade de Recife. Aliás, as últimas postagens trazem fotos da mesma cidade que visitei nas últimas férias de janeiro, e me surpreendi positivamente, pois, apesar dos engarrafamentos inevitáveis nos horários de pico - algo comum nas grandes metrópoles -, Recife é de uma riqueza cultural incrível, a começar pela arquitetura de seus prédios e logradouros públicos.
Mas, essa imagem postada acima, de um momento bucólico, mesmo que em um meio urbano, serve como paisagem que representa aqueles momentos, também bucólicos, quando nos encontramos em uma manhã mais livre, em que seus afazeres imediatos, profissionais e do dia a dia, estão todos em dia; quando não há uma preocupação emergente à vista; quando as tempestades dão lugar a uma calmaria espontânea; e mesmo com algumas pendengas, ou tendo preocupações quanto ao futuro, seja de médio ou longo prazo, essas mesmas preocupações dão lugar a um bem-estar existencial que não se sabe de onde veio.
De repente, mesmo depois de fazer umas compras em um supermercado e ter que encarar uma fila quilométrica até o caixa, aquilo tudo já não significa algo enfadonho. De repente tudo aquilo faz parte do meio em que você se encontra; e aquela música, qualquer música, ouvida naquele "som ambiente" do supermercado, só vem a celebrar esse momento ímpar de se ver ali, inteiro, vivo, depois das tempestades.
E o melhor é que o personagem principal nesse cenário não são as preocupações, não são as ansiedades inerentes à vida, que se tornam pequeninas frente a um personagem que, mais uma vez emerge desta trama existencial. O personagem principal é você mesmo, ou você próprio. É você junto de você mesmo, se "curtindo"; você celebrando a própria existência, o estar vivo, em movimento retilíneo, ou circular, mas em movimento. As preocupações existenciais passam a não existir, mesmo que momentaneamente; de repente o dia a dia se torna, não uma forma de constatar que o tempo está passando, que mais um dia vivido é um dia a menos; e que se hoje, com 44 anos, esses dias passando no dia a dia "pesam", você começa a imaginar o "peso" que terão daqui a quinze anos, quando estará prestes a chegar nos sessenta. Mas rapidamente você "apaga" esse pensamento e volta àquele dia perfeito, quando você se sente você, quando no desenrolar dos momentos ao redor nada lhe chama a atenção, apenas você se sente você.
Um momento como esse merece ser descrito, narrado, até como forma de perpetuá-lo. Mas a principal lição que tiramos de momentos assim, é que apenas nós mesmos podemos fornecer as condições necessárias para um bom viver, espiritualmente falando; que as condições externas ao próprio ser, não devem ganhar esse contorno de importância que às vezes, ou sempre colocamos, ou nos colocamos frente às mesmas; que você é responsável por você, e só você para satisfazer plenamente você mesmo, em termos espirituais. É a velha autoestima que emerge, mostrando que para se sentir pleno, em um meio material, não necessariamente há a necessidade de haver algum tipo de conquista. As conquistas até então, em todos os setores, já são capazes de proporcionar o condão de contentamento reinante. Qualquer atividade se torna pequena frente a esse condão, mesmo uma atualização ou uma nova memoralização natural, no dia a dia, do novo acordo ortográfico, já não ganha ares de mão de obra inevitável, mas fazendo parte do contexto e sendo levado apenas como algo a mais na eterna aprendizagem da vida.
Aí você vai ao estacionamento do supermercado, coloca as compras no bagageiro, e se dirige à saída. Ao sair, como sempre, você esquece de colocar o cinto de segurança, algo que costumeiramente só é feito com o carro em movimento. Um costume perigoso. Mas ao sair e se deslocar por uns dez metros, você se dá conta de que naquele semáforo próximo há três guardas de trânsito, e logo se lembra do cinto de segurança, que logo é colocado, ação essa que com certeza foi acompanhada numa virada de rosto por um dos guardas, e que aparentemente passou desapercebida. Mas o seu trunfo estava em sua mão que segurava o volante - o bilhete do estacionamento -, que por ser colorido com certeza lhe proporcionaria a salvaguarda pretendida, ou no mínimo seria o motivo para mostrar que somente com o movimento do carro é que você se propõe a movimentar o cinto de segurança à sua volta. E o bilhete na mão, junto ao volante, foi colocado em evidência. O dia havia começado.

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