domingo, 19 de junho de 2011

Culto ao Eu

Um dos maiores empecilhos que se encontra em uma jornada dita espiritual, ou sob um contexto em que a espiritualidade se torna um fator importante, ou a própria “bússola” a nortear os passos nas trilhas da vida, seria o chamado “Culto a si mesmo”, quando se torna difícil visualizar outras condutas terrenas que não tragam em seu bojo a sempre necessidade de suprir as necessidades imediatas - ou não -, que são a tônica de qualquer ser vivo que depende de fatores externos a si, e que por vezes ganha ares de grande importância quando a perspectiva colocada nesta busca se torna o epicentro de uma vida. E a preocupação que recai sobre essa conduta é a de centralizarmos toda a nossa energia e tempo na busca de trazer a si essa condição favorável não apenas em termos do bem-estar físico, mas também psicológico, quando o “ser um vencedor” seria o ápice de uma existência humana, trazendo toda uma parafernália mental favorável e condizente com a condição alcançada; ao cabo que para os demais seres vivos do planeta, o suprimento das necessidades básicas - biológicas -, se torna a razão do existir, e nada mais do que isso.

Mas a razão do “Culto a si mesmo” seria a lógica do sistema econômico (capitalismo) ao qual estamos inseridos, onde observa-se todo um proceder humano (numa visão geral) que coloca na ordem do dia essa necessidade de competir e de sempre se sentir um vencedor; pois na teoria, ou na prática, caberiam aos vencedores os “louros da vitória”, que na realidade seriam “as loiras”, pois sabemos que todo proceder humano - e dos seres vivos de um modo geral -, tem como finalidade suprema, ou principal, a perpetuação da espécie, sendo mesmo a razão principal de todos os embates na vida; e desde que o mundo é mundo que os seres vivos procuram passar a sua carga genética adiante, e no caso humano esse fator ganhou contornos sociais que nos induzem a creditar toda uma performance humana no trilhar terreno apenas visando a obtenção do poder pelo poder, quando implicitamente esse poder está relacionado não apenas a uma melhor condição de suprir os meios de sobrevivência básicos, mas, também, a uma melhor capacidade de não somente se ver inserido numa “relação de produção”, mas, fornecendo elementos em que o resultado da “relação de produção” tenha os meios necessários para continuar a levar a carga genética adiante.

O budismo apresenta uma fórmula para destruirmos o ego, que seria o responsável pelas mazelas humanas em todos os setores da vida, e que é construído - ou desvirtuado -, segundo as reflexões colocadas anteriormente. A prática do “silenciar a mente”, ou da “interiorização” seria uma forma, em linhas gerais, de se obter um conhecimento além do que é proposto pelo mundo externo. É um exercício de autoconhecimento profundo, onde o “eu” toma lugar para si mesmo, ou se torna para si mesmo algo muito mais refinado do que o “eu” que se apresenta a partir das premissas construídas em consonância com o que trilhamos ou tomamos parte no mundo.

Se livrar do “Culto a si mesmo”, ou destruir o ego a partir da vertente budista requer um desprendimento que talvez seja mais difícil de ser alcançado pelo homem ocidental, acostumado a trilhar, mais do que nunca, de acordo com o que imposto pelo sistema exterior a ele mesmo. Talvez, ao homem ocidental, o trilhar sozinho, a partir de si mesmo, requer um exercício de autoconhecimento que somente os que assim se propõe a ofertar para si essa visão, estejam mais dispostos a encarar esse desafio.

Mas, se também há a necessidade do exemplo - mesmo nessa seara espiritual -, para que o homem ocidental remodele a própria existência, temos que o Criador, além de ser “visualizado”, ou discernido por vertentes orientais da espécie humana, Ele próprio tomou a iniciativa de ser mais bem compreendido pela Sua criação, através de intervenções extraordinárias em determinados espaços sociais humanos no decorrer da história, que foram observadas, seguidas, e registradas. E a partir daí temos exemplos de homens, no decorrer da história, que levaram adiante essa Nova Ideologia que viria a ser o Melhor Caminho para uma Ideologia Maior, e Melhor. E os exemplos, tão caros aos homens, tanto na Antiguidade, como na história mais recente (desde o Império Romano), tornam-se cada vez mais numerosos.

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