sábado, 16 de abril de 2011

Mundo Bárbaro II


Um pensamento que me ocorreu agora, e já é um pensamento antigo, já exposto na Internet há alguns anos através de um outro blog, é um pensamento que merece ser colocado nesse blog também, no momento atual, quando o autor desse blog se encontra em um momento de muita inspiração e procura transcrever esses momentos e pensamentos por julgar necessário fazer algum tipo de registro sobre os mesmos e deixá-los à disposição não somente dos parcos leitores desse discreto blog, mas, e principalmente, aos leitores dos outros dois blogs mais antigos de minha autoria e que se encontram no momento "parados", já que esse blog encontra-se "linkado" com os mesmos ou sendo um pequeno apêndice dos mesmos, fazendo jus ao nome proposto (Momento Espiritual), pois esse blog é algo afeito aos poucos que penso que me acompanham nesses últimos anos e que merecem que saibam a quantas anda o autor, quando esse mesmo autor procura fazer o que sempre fez nesses espaços mais ou menos públicos: colocar pensamentos e momentos sob a forma escrita que poderão ser o início, ou já fazendo parte e ajudando na elaboração de futuros livros, que são, para os que gostam de escrever, um caminho natural.
O pensamento em questão, quanto me veio à mente caiu-me como uma ficha, pois me dava - e ainda dá -, de forma racional, uma constatação que provoca uma sustentação excepcional numa caminhada em algum tipo de espiritualidade.
A simples e ao mesmo tempo absurda constatação/iluminação é a de que, apesar de todos os embates, lutas e conquistas pelo Poder; de uma busca generalizada do Poder pelo Poder; das façanhas praticadas pelos grandes da história, ao final, apesar de todo uma performance que tornou-se digna de ser registrada na História pelos mesmos grandes da história, esses mesmos ilustres da História têm o mesmo fim dos que apenas e aparentemente passaram à margem da História contada pelos grandes da História. Apesar de todo um atropelo pelo Poder e conquista, eles, os grandes da História, deverão passar pelo mesmo crivo da Boa Viagem tal qual passam, passaram e passarão o mais comum dos mortais.
Então, essa reflexão só vem a completar a reflexão feita no post anterior e dá uma dimensão que, se em um primeiro pode parecer simples, de repente é uma constatação excepcional e digna de registro.
E por que é digna de registro? Porque de certo modo destrói uma condição colocada a todos que vivem em um mundo em que existe uma "barbárie sob controle", aonde essa mesma condição leva à crença na valorização da competição, do embate em todos os setores da vida ser algo normal e até "natural"; da luta e conquista pelo poder como sendo o senhor ou a mola-mestra a conduzir o pretenso "combatente" ao ápice de sua existência.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Linguagem de Deus


Em um dos piores dias de minha vida, nessa semana que está se passando, numa sala de espera em que eu esperava pelo que havia entrado no Paraíso, me deparei com uma senhora sentada ao lado que também esperava, mas pelo filho que havia passado por um inferno e agora se recuperava.
Entre a conversa de dois aflitos, um sem ter mais esperança e a outra com a esperança renovada, notei que a dita senhora se detinha em leituras numa bíblia "surrada" pelo uso e arrisquei um palpite que me foi confirmado por ela.
Senhora simpática, casada e com três filhos, sendo que o mais novo havia se acidentado e agora ela esperava por ele. E conversamos sobre as coisas de Deus. E conversei, não tentando convencer, mas tentando, através dela, me reanimar frente à nova realidade que me depararia a partir daquela "passagem" de quem ainda espera sob uma forma terrena.
Discorri que os que buscam entender e caminhar sob as coisas de Deus, têm que interpretar os sinais que Deus manda através de Sua própria criação; que Deus se comunica com os homens através da escrita, mas também através de outros elementos naturais, afora o próprio homem e suas criações. E ela discorreu em uma linguagem que me surpreendeu àquele momento, e algo que ouvira ou lera em algum lugar, mas que àquele momento ganhou um destaque especial. Ela simplesmente e acertadamente disse que os que procuram a Deus ganham uma forma de ter uma intimidade com o Criador, com as coisas do Criador, e através desta intimidade conseguem não somente interpretar, mas entender perfeitamente quando os sinais são de Deus.

Mundo Bárbaro


Uma constatação incrível que se pode fazer nos dias atuais é a do homem, enquanto ser envolvido nos chamados rudimentos do mundo, ou totalmente voltado para os afazeres que o fazem escravo - escravo do tempo, escravo da mídia, escravo do dinheiro, etc. - , não sente a necessidade, ou não tem um maior interesse, pelo menos momentaneamente, em nada que não esteja envolvido nesse conjunto de necessidades a serem supridas, o tornando escravo dessas necessidades.

Imagino o homem atual voltando a uma situação semelhante ao paganismo de outrora, ou vivendo, atualmente, em um momento aonde o contexto material, mais do que nunca, ganha uma importância tal que impediria qualquer outro avanço maior na ideia de um Ser Criador - ideia libertadora por excelência.

Criamos condições favoráveis de existência, mas essas mesmas condições favoráveis de existência não promovem um bem-estar espiritual capaz de selar o vazio existencial comum a todos em algum momento da existência.

Estamos como naqueles dias em que Paulo transitou pela Grécia e frente aos filósofos de então não foi capaz de promover a Visão que possuía, ou que conquistara. Nos dias atuais temos os mais variados profissionais em várias áreas do conhecimento humano levando adiante a evolução econômica/material/social conquistada pelos homens, que deram grandes saltos de qualidade por assim dizer, na esfera material, mas que na esfera existencial se tornou um escravo das próprias condições criadas para o bem-estar material humano.

Um desprendimento de tal condição só é possível através de outra visão de mundo ofertada pelo Criador, porque tira o foco apenas do que o mundo coloca - em termos materiais -, e mostra ao homem que o Mundo Não-Material é uma outra Realidade possível, só não possuindo a lógica do mundo material ao qual o homem-material está acostumado a trafegar.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Velho Sertanejo


Velho sertanejo, que nasceu em uma terra de pastagens verdejantes, em uma fazenda de muita fartura, de muita liberdade. Mas a seca, como em outras paragens daquele semiárido do sertão, fez ele e sua família abandonarem aquela fazenda; e lá se foi o velho sertanejo, então com oito anos de idade, se instalar com os seus em uma cidade que mesmo no sertão dispunha de alguma facilidade em termos de aquisição da água tão necessária.
Cresceu no sertão. Um belo dia, já adulto, migrou para a cidade grande e adquiriu uma outra realidade. Se empregou, estudou, passou de filho de grande fazendeiro a assalariado. Mas aprendeu o ofício de agrimensor, em uma época em que haviam muitas terras a serem medidas, muitas obras, açudes, e ainda não existia o GPS, era tudo no "olho", no "aparelho" topográfico, e depois nos intermináveis cálculos feitos numa calculadora a pilha e na ponta do lápis.
Muitas serras, muitas léguas percorridas. Muita mata. Creio que aquela profissão ainda lhe oferecia a velha liberdade da antiga fazenda de seu pai.
Hoje, momentos estranhos aconteceram. Saindo de casa, ao passar por sobre um viaduto, a manhã cristalina exibia uma visibilidade rara, até mesmo porque o dia anterior fora de muita chuva. Havia uma serra azul que se destacava ainda mais no horizonte, e havia um avião subindo ao céu de maneira que dava para visualizar perfeitamente o seu contorno. Aliás, desde o dia anterior o que mais via no céu eram aviões, aqueles que pareciam apenas fazer um trajeto burocrático cumprindo alguma missão, pois eram aviões militares, talvez de vigilância, ou treinamento.
Subindo rampas, escadas, corredores, e finalmente um elevador, seguíamos sem querer um velho frei, com sua roupa típica franciscana, com sua barba e cabelos branquíssimos, e apenas a "concunda" causada pela velhice a consagrar a idade avançada. Me perguntei porque o velho sertanejo não havia chegado naquela ótima condição, até porque era dois anos mais novo do que aquele frei, que aparentemente não apresentava a terrível artrose que acometia o velho sertanejo. Acabei por concordar com os comentários de outros, de que a situação precária em termos físicos devia-se à maior liberdade de locomoção do velho sertanejo, que percorreu léguas de distância na juventude e na fase adulta, tanto pelo divertimento como e principalmente pela labuta, e daí vieram os desgastes naturais devido ao uso intenso das articulações.
Aquele frei não estava ali "de graça", apenas cumprindo a missão que lhe fora devida por outra pessoa que o levou até àquele local; como tampouco os aviões apareciam "coincidentemente" quando vez ou outra eu buscava uma paisagem diferente, ou buscava tirar os olhos daquela realidade que estava vivendo. Como tampouco foi por acaso que ao entrar no banheiro me veio um pensamento do nada, de estar em um local verdejante, um gramado, em um dia resplandescente, e me levantando para fazer uma graça para uma garota que estava sentada, tirando o calção e saltitando de cuecas pelo campo.
Aquela alegria toda, naquele paraíso, que por um momento pensei que seria eu que estava vivendo, me caiu a ficha de que era o velho sertanejo com sua amada que fora antes que ele para o paraíso, e naquela imagem, novamente jovens e alegres pelo reencontro, brincavam como velhos conhecidos, ou como pessoas que saíram de uma condição em que a velhice não existiria e finalmente voltavam a ficar juntas. Como também o "verdejante" proferido "coincidentemente" durante a leitura bíblica, na missa, logo após, só veio a fazer cair a ficha sobre o pensamento sobre os dois jovens alegres e bonitos naquele paraíso verdejante, no campo. Por um momento era como estivessem me dizendo, me fazendo ver onde estava o velho sertanejo, que reencontrou a sua eterna amada.
Também o sermão especial, elogiado ao final, feito por um padre ancião, veio a coroar a "alegria" conquistada pelo velho sertanejo, que partiu quase dormindo, sem dor, falando se eu havia cortado o cabelo, como se ainda adolescente eu fosse; falando-me "meu garoto", como se ainda garoto eu estivesse à sua frente, e falando de estar se sentido em Boa Viagem, ou na Boa Viagem, pois não entendi se ele se referia a uma cidade específica que ele conheceu em suas andanças profissionais, ou se estava se referindo à Boa Viagem comum a todos, em algum momento da vida.

sábado, 9 de abril de 2011

Hotel Califórnia


Mil novecentos e setenta e poucos. Saio de um fusca cujo proprietário não me recordo, só sei que estava na companhia de meus pais. Eu deveria ter uns oito anos, mas essa música - Hotel Califórnia - naquele momento se tornou tudo a ver, combinou perfeitamente com aquele momento em que paramos em um estabelecimento comercial à beira da estrada.
Manhã perfeita, cheiro de manhã, se é que pode-se conceituar aquele clima que mesclava uma atmosfera perfeita com um momento que ficou na memória como possuindo um aroma específico, e que hoje, ao me deparar novamente com essa música me transporto de imediato àquele momento, àquela época.








Eagles - HOTEL CALIFORNIA

terça-feira, 5 de abril de 2011

Interiorização


Observar a si mesmo, olhar para si mesmo, interiorizar-se, olhar para dentro, olhar para si frente ao mundo... A presença no mundo é algo que deve ser refletido. A simples presença no mundo é algo excepcional, é saber-se possuidor de características e condições especiais que possibilitam a existência tal qual tomamos conhecimento ao olhar para nós mesmos. E antes de qualquer tomada de posição, ou de rotulação, querendo uma conceituação acerca desse “exercício” a ser desenvolvido, deve-se apenas observar que essa tomada de visão sobre si mesmo é um passo importantíssimo para uma independência frente ao mundo, sobre as emergências que o mundo coloca a cada um de nós.

Quero definir esse “exercício” ou tomada de visão como sendo uma constatação de que a própria existência é algo extraordinário, mesmo que esse “extraordinário” seja afeito a muitos, a milhões de seres vivos, cada qual vivendo sob condições encontradas ou adquiridas.

Não se trata de uma fuga, como muitos julgam qualquer tipo de meditação (que prefiro chamar de interiorização), mas de uma visão interior e exterior ao mesmo tempo; da tomada de consciência de que a vida é o bem maior e que deve ser bem conduzido, deve ser preservada dos estresses desnecessários que a vida ou o mundo impõe a cada um de nós. O interiorizar-se passa a ser uma conduta de aperfeiçoar-se frente a nós mesmos, conhecer a nós mesmos, compreendermos a nós mesmos, numa busca de condições mais favoráveis - em nós mesmos -, na caminhada no mundo. Devemos refletir até que ponto o meio externo deve influir em nosso interior, que se torna, a partir de então, o mais importante a ser preservado; que o meio exterior não deve ser o senhor da nossa existência, ou não deva permear a existência, e por isso mesmo deve ser evitado, deve ser contornado e deve ser colocado ou deixado em seu próprio meio.

É olhar para si mesmo a partir de dentro. É saber-se um componente existente em determinado espaço geográfico e político, mas que esses últimos fatores não devam ser a mola-mestra a conduzir a trajetória da vida. É deixar o mundo viver em seu próprio ritmo; é não se assustar com o movimento do mundo, mas tomá-lo como algo natural ao mesmo, afinal, tudo no mundo tem movimento, a começar pelo próprio mundo.

E de repente os milagres acontecem. E de repente a vida toma ares mais de acordo com o eterno movimento do mundo, com a mágica que se tornou viver e estar no mundo. De repente nós nos tornamos muito especiais para nós mesmos e começamos a comandar a nossa vida sob fatores mais de acordo com o movimento do mundo. Já não precisamos nos sobressaltar em relação aos percalços, às condições que não consideramos condizentes com as perspectivas que construímos e consideramos como ideais, apenas aceitamos que a vida em seu aspecto maior sempre dá a palavra final.

A palavra final já não deverá ser uma busca incessante; é apartar-se da competição inerente ao regime econômico em que estamos inseridos; é saber que com essa sintonia o mundo acaba sendo visto sob outros olhos, sob outras condições. E acaba-se ganhando um movimento diferente no mundo, sobre o mundo; acaba-se sendo um ser próprio, um ser único, dono de si mesmo; acaba-se procurando dentro de si a saída que sempre é buscada no exterior.

É esse estranhamento consigo próprio que deve ser o ponto inicial de descobertas incríveis que estavam encobertas pelas emergências do mundo, da vida, numa trajetória material que aprisiona a vida apenas sob esse aspecto – material – tornando-nos apenas sujeitos econômicos e sociais a desempenharem ações com um fim quase universal.

Sair desses parâmetros e através da interiorização alcançar patamares mais afeitos à boa condição espiritual deve ser um “exercício” não apenas eventual, mas habitual.