domingo, 13 de março de 2011

A Trilha

Romanos 15
4. "Ora, tudo quanto outrora foi escrito, foi escrito para a nossa instrução, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança".

A continuação desse capítulo bíblico, que se tornaria muito extenso se aqui o digitasse, continua a nos fornecer uma ideia de como as Escrituras mantêm em seu arcabouço uma leitura sempre atual, provinda de uma perspectiva sobrenatural construída há séculos.
Essa reflexão é apenas para colocar à disposição dos que gostam de ler aspectos relacionados à espiritualidade feitos por quem há muito procura caminhar sob essa perspectiva - e que chegou em um estágio de maturidade não só fisiológica e psicológica, mas espiritual -, e que através dessas experiências nessa área específica, as mesmas me permitem levar em conta o que "mandam" as Escrituras, porque as Escrituras realmente "falam".
Manter essa perspectiva e colocar essa perspectiva na ordem do dia, seja sob a forma de registrar experiências e reflexões acerca da mesma, seja através de leituras bíblicas, se tornou quase uma "ordem" quando assim me proponho a fazê-las, dado que por esse meio de comunicação - a escrita -, muitos conseguem vislumbrar esse aspecto na vida, e a escrita torna-se, assim, um dos meios possíveis de nos vermos incluídos nesta perspectiva sobrenatural.
Tenho esse meio de comunicação - a escrita -, em grande conta. Desde muito jovem sempre me pegava lendo algo, e da leitura à escrita foi um passo totalmente natural. Modéstia à parte, nos tempos de escola sempre me destacava ao escrever redações, pois escrever se tornava algo divertido de se fazer, ainda mais quando se tomava "contato", por esses tempos e através dos livros escolares, com um dos mestres da literatura nacional - Drummond -, e suas impagáveis crônicas. A escrita se tornou algo muito divertido.
Antes de traçar essas linhas e digitá-las no blog, tinha em mente digitar outras linhas a partir de uma visão que já havia colocado em outro blog (Azul no Mundo), em que mencionava o fato de que na infância, na época das férias, no interior do estado, na casa em que nos hospedávamos tinha uma serra quase como a continuação de seu quintal, e nesta mesma serra havia um Cruzeiro em seu cume.
Havia construído em minha mente uma metáfora que deveria ser digitada no blog, dando conta de que aquele Cruzeiro no alto da serra simbolizaria Algo a ser alcançado, e que muitos, uma vez avistando o dito Cruzeiro, seja no sopé da serra, seja ao longe, os mesmos se propunham a subir a sua trilha principal com a finalidade de alcançá-Lo.
Esse Cruzeiro literal não me foi possível alcançar na época de garoto porque o meu pai temia - já que conhecia esse caminho como se fosse a palma de sua mão -, que as cobras que ele tanto presenciou nas suas subidas, extinguissem de forma precoce a existência de um futuro blogueiro. Mas essa visão trazida da infância, me permite fazer hoje uma analogia entre o subir uma montanha apenas visando a adrenalina de uma escalada cheia de aventuras, com o subir a montanha atual, sob um prisma espiritual, mesmo que o Cruzeiro continue tendo uma visão literal.
Mas aí é que começariam os problemas, pois muitos, tomando por base o Cruzeiro literal, ampliam a visão literal-racional e colocam essa forma literal de ver as coisas como também fazendo parte do caminho, ou compondo o próprio caminho em si, considerando o caminho ao Cruzeiro como sendo um caminho literal tal qual se apresenta o Cruzeiro ao longe.
E nessa trilha especial acontecem as mesmas peripécias que geralmente acontecem nas trilhas literais da vida. Mas aí é que entra a tal da experiência nesse campo, vivida e propagada pelo blogueiro que escapou de ter a vida ceifada precocemente graças à atuação protetora de seu pai. O blogueiro adquiriu um grau de maturidade, que o permite ver que mesmo que a performance dos que se propõem a subir a trilha especial se mostre errada aos seus olhos, ele chegou à conclusão de que a performance errada se dá não por culpa dos "alpinistas", mas devido às condições propiciadas, adquiridas, conquistadas, aperfeiçoadas, atreladas, no intuito de conseguirem alcançar o Cruzeiro; que o erro começa com o tentar alcançar através de um caminhar literal; da corrida desenfreada; das cotoveladas inerentes ao modo em si; da competição; da busca sempre presente pelo poder, em qualquer grau de magnitude; e outros, como se estivessem numa trilha literal tal qual estão acostumados a trilhar na vida, procuram "facilidades" através do poder econômico, capazes de proporcionar uma ida mais confortável, como se fosse possível construir nesta seara escadas rolantes, elevadores, ou a utilização de helicópteros fosse uma realidade possível de acontecer, tamanha a materialização afeita e desenvolvida nesta trilha especial. E cotoveladas, rasteiras, uma "batalha" de todos contra todos, de grupos contra grupos é travada aonde menos se esperava que a mesma ocorresse.
Mas o blogueiro que escapou das cobras, do alto de seu desprendimento, se achando o sábio dos sábios nesta seara espiritual - ainda que estando sob uma condição material -, olha estupefato, assombrado, por vezes olhando com desdém aquela "corrida". Porque para ele que conseguiu atrelar a si uma Condição Especial que lhe permite um ponto de vista que sequer lhe permite olhar os "competidores" em ação, considerando a dita corrida engendrada pelos mesmos como infrutífera, o "alcançar o Cruzeiro" não se daria sob aquela forma dita literal, mas através da forma espiritual. Ou seja, o blogueiro chegou à conclusão de que se há a tentativa de se trafegar numa seara espiritual, nada mais de acordo que trafegar de forma espiritual pela dita seara; que deve-se "abandonar" o corpo nesta forma de buscar o Cruzeiro, porque o que vale é o espírito; que mesmo se alcançando o Cruzeiro literalmente, esse alcance tem como finalidade última o desenlace entre o corpo e o espírito.
Então, o blogueiro toma a si como um possuidor de todas as virtudes e de que é possuidor de uma visão especial naquela e sobre aquela trilha especial, e, portanto, possuidor de uma conduta correta no trafegar terreno rumo ao Cruzeiro. Mas de repente o blogueiro é "iluminado" e lhe vem à mente que até mesmo essa sua conduta tida por ele mesmo como exemplar se mostra equivocada; que mesmo se vendo em uma frente diferente rumo ao Cruzeiro, de repente o blogueiro chega à conclusão de que a chegada até o Cruzeiro, mesmo que sob essa condição especial que lhe pertine, não está atrelada ao mérito. Não é o mérito que define a chegada ao Cruzeiro, pois essa busca pelo mérito é apenas uma faceta mais visível do mundo terreno que procura também se fazer presente nessa Nova Caminhada.
Enfim, o blogueiro, no final das contas, se dá conta de que mesmo ele estando ou se achando estar em um relevo mais elevado espiritualmente, esse mesmo relevo tido como espiritual o estava levando a trafegar por um relevo material, e o seu "caminhar" se tornou tão literal quanto o caminhar daqueles que ele julgava como caminhando de forma errada, pois se eles estavam literalmente escalando a montanha, ele, o blogueiro, tentava chegar ao Cruzeiro por um outro caminho mais leve, planando, espiritualmente falando, mas tão literal quanto o caminho dos outros. Então se deu conta que estava sendo orgulhoso e vaidoso por ter aprendido a "voar".
Então, mais um vez o blogueiro ser deu conta de que o caminho ao Cruzeiro é fadado a todos; que o fim último - ou primeiro - não estaria na chegada, mas no caminho por vezes tomado como literal, aonde o corpo aprende a se deslocar segundo o espírito, e não segundo o corpo; aonde os corpos possam, enfim, conviver harmonicamente segundo o Espírito, numa reunião espiritual em que todos são literalmente iguais, independentes dos corpos e adereços atrelados aos mesmos. E o blogueiro "desce" do pedestal que construiu para si mesmo.

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