quarta-feira, 16 de março de 2011

Noite Diferente

No início dessa semana fui a um local que há muito desejava conhecer, e o motivo de minha ida não foi somente pela curiosidade, já que há muito ouvira falar desse lugar diferente. Trata-se de uma das duas vertentes mais conhecidas na cidade da chamada Renovação Carismática da Igreja Católica. A outra eu já conhecia, mas faltava conhecer essa, e houve essa oportunidade devido ao fato de minha filha caçula fazer a Crisma; e a escolha desse lugar se deu mais devido ao horário que a mesma oferecia, pois o horário noturno em um dia específico da semana não atrapalharia as atividades normais e horários já estabelecidos, apesar do deslocamento àquela hora ser atrapalhado pela distância e os resquícios de engarrafamento, ou congestionamento no trânsito.
Chegando ao local noto ao longe, no local aberto e coberto que serviria de auditório, um adolescente numa bateria e um senhor de meia idade agarrado a um violão, ambos afinando os instrumentos e fazendo alguns acordes. A noite prometia.
Depois de todos sentados em lugares dispostos, começamos a ouvir o que deveria ser o líder espiritual, ou seja lá o que for, mas que fazia-se de mestre-de-cerimônias e fez a apresentação do local; e fiquei sabendo que aquela vertente fazia parte de uma paróquia próxima, era como um anexo especial em que aconteciam encontros e missas.
Mas o que mais me chamou a atenção não foi a vertente em si, já que já tinha uma ideia do que se tratava devido conhecer a outra vertente, que seria até mais conhecida na cidade; mas no discurso proferido pelo líder espiritual, que contou que ao contrário de antigamente em que os adolescentes eram praticamente obrigados a fazer a Crisma, hoje são os próprios adolescentes que procuram fazer, até antes mesmo da idade ideal que seria de quinze anos, em um sinal claro que uma parte da juventude está a necessitar de um apoio espiritual para fazer frente à loucura em que se tornou o mundo atual.
Não estou falando de adolescentes que estejam em situação de risco, ou de pessoas que estão procurando a religião - ou o desenvolvimento de uma espiritualidade - com a finalidade de fugir de uma realidade mais cruel em termos existenciais, estou falando de jovens de classe média, bem nutridos, bem vestidos, com ótima aparência, buscando uma vertente diferente e se esquecendo, ou se distanciando, ou fazendo frente aos apelos consumistas inerentes à idade
e à própria classe social.
Sou realista nesta seara. Penso que apenas uma minoria dos jovens nessa faixa etária acabam por se engajar mais demoradamente, seja nessa vertente, seja na vertente tradicional da religião, mas foi bom ver jovens que estão mais engajados pelo menos temporariamente. E naquele momento haviam os monitores, tão adolescentes quanto os que estavam começando a Crisma, que faziam a parte de "enturmar" aquele grupo e o fizeram com maestria, pois logo após alguns cânticos com letras de músicas voltadas à adoração, esses jovens monitores que já haviam passado pela Crisma e se achavam engajados a tal ponto de não somente ficarem cantando e dançando de acordo com uma coreografia própria, mas a de colocar em prática a parte de levar para o "palco" a maioria daqueles jovens que estavam ingressando e que acabaram por também dançar e cantar literalmente.
Há alguns anos atrás com certeza uma imagem dessas me faria torcer o nariz, levando em consideração toda uma idealização construída e que passaria longe daquela manifestação, que aos olhos de qualquer um que não esteja tão afeito a algum tipo de espiritualidade, ou religiosidade, beiraria, no mínimo, a uma demonstração de total alienação. Mas hoje não, hoje, depois de muito percorrer esse caminho que está aberto a todos, ou de tentar percorrê-lo, mesmo que aos trancos e barrancos, com idas e vindas, hoje sei da importância que se deve atribuir a uma faceta da existência que, infelizmente, só é levada em conta, na maioria da vezes, ou numa tenra idade, ou numa idade mais avançada.

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